No
último plantão, mais precisamente dia 10 de outubro, tive o prazer de ser enviada para fazer a cobertura de um casamento. Mal pude acreditar, ainda mais quando soube da história por trás da cerimônia. O noivo é Jônatas Cabanelas. Ele veio de Salvador para Fortaleza para receber um coração e acabou ganhando dois: o da técnica de enfermagem Elys Parente. Apesar dessa matemática ter um saldo positivo, o processo dessa adição foi repleta de percalços.
Aos cinco anos, ele descobriu ser portador de miocardiopatia hipertrófica congênita, doença genética herdada de seu pai e passada também a seus três irmãos. Toda a família era acompanhada por médicos, no entanto não foi suficiente, a patologia aos poucos levou cada um, sem misericórdia. O último foi sua irmã que na espera por um transplantes, depois de três AVCs, veio a falecer em 2012.
Este ano, aos seus 33 anos, entrou na fila do transplante. Depois de alarmes falsos, na sétima tentativa (no dia 19 de março) conseguiu um doador. Foram sete horas de cirurgia e finalmente um novo coração batia em seu peito. Todavia, não batia como deveria, sendo preciso temporariamente um coração artificial para auxiliar no trabalho cardíaco. Além disso, Jônatas ainda teve infecção respiratória e outras complicações durante o pós-operatório.
Durante esse período, por vezes parecia que seus dias estavam contados. Mas, ao lado da mãe Hercília e da nova namorada que conquistou em uma cama de UTI, ele encontrou forças para enfrentar cada barreira. Inclusive, Elys trancou a faculdade de Enfermagem no sétimo semestre e pediu demissão do antigo emprego para dedicar-se aos seus cuidados e ficar ao lado dele nesse momento de recuperação. Demorou um pouco, três meses, porém no dia 29 de junho conseguiu receber a tão esperada notícia: a alta do hospital.
Romance
Embora o primeiro coração tenha sido difícil, a conquista do segundo foi mais fácil e imprevisível do que pensava. Para esta fila não houve demora. Logo nos primeiros dias em Fortaleza, conheceu a jovem Elys. Na primeira semana de janeiro chegou a Fortaleza e, sem delongas, no dia 21 começaram o namoro. Durante o relacionamento, não houve mistério no sentimento de ambos, sendo mútuo o interesse em oficializar logo a união deles. Assim, após receber a alta, o pedido foi feito e os preparativos começaram sem falta, com ajuda da sogra.
O casamento civil foi realizado entre familiares, amigos e colegas conquistados no hospital. Da decoração, o mais bonito não estava em nenhuma das mesas e, sim, estampado na face dos noivos. O sorriso deles foi o melhor da festa. E não faltou em nenhum momento, seja nos cumprimentos, nas fotos ou no momento a sós. Foi esse mesmo sorriso e espírito alegre que acompanhou os dois durante toda a luta de 75 dias de espera por um coração. E também foi esse mesmo sorriso que tive o prazer de ver de perto.
É muito bom participar da felicidade alheia, de presenciar uma conquista, mesmo que seja de desconhecidos meus. O jornalismo às vezes é um presente diário por poder dar oportunidades como essas a quem pratica essa profissão. É uma alegria poder conhecer todo dia a história de alguém, contar ao mundo que todos têm algo de interessante a compartilhar, a testemunhar. E ao casal, felicidades.